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Pólio: especialista do IOC alerta para a importância da vacinação

A poucos dias da primeira etapa da campanha nacional de vacinação, o pesquisador Edson Elias, chefe do Laboratório de Enterovírus do IOC, explica os reais perigos da reintrodução do vírus
Por Jornalismo IOC08/06/2010 - Atualizado em 10/12/2019

Apesar dos esforços para erradicação da poliomielite no mundo, só em 2010, até o mês de maio, foram registrados 237 casos da doença segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Desses, somente 52 foram registrados em países considerados endêmicos na África e na Ásia. Os números explicam a grande mobilização em torno da vacinação contra a poliomielite. No Brasil, país onde a erradicação da doença foi certificada pela OMS em 1994, há mais de 20 anos não há registro de casos. O sucesso é resultado das campanhas realizadas desde 1980 no país, que garantem 95% de cobertura vacinal anualmente em crianças de até cinco anos de idade.

No próximo dia 12 de junho, será realizada a primeira etapa da campanha nacional de vacinação contra a paralisia infantil. O pesquisador Edson Elias, chefe do Laboratório de Enterovírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), referência internacional para o tema, explica os reais perigos da reintrodução do vírus e reforça a importância da imunização.

O último caso de poliomielite no Brasil foi registrado em 1989. Por que a vacinação ainda é tão importante?
Enquanto forem registrados casos da doença no mundo, a vacinação precisa continuar sendo realizada. Existem países como Índia, Afeganistão, Nigéria e Paquistão que não conseguiram erradicar a poliomielite e que podem exportar o poliovírus selvagem para outros territórios antes considerados livres da doença.

Outro aspecto está relacionado com o vírus vacinal. A vacina ministrada no Brasil e em grande parte do mundo é produzida com base no vírus vivo atenuado. Ao se replicar, ele pode sofrer mutações e, se tiver a oportunidade de circular em comunidades sem cobertura vacinal adequada, pode causar surtos da doença em pessoas que não foram imunizadas. Por isso é importante que os pais continuem levando os filhos menores de 5 anos para vacinar. Com a cobertura vacinal ampla, não existe o risco de uma pessoa não vacinada contrair o vírus.

No caso da exportação de casos, como o vírus se dissemina no ambiente?
A paralisia é o sinal mais visível de infecção pelo poliovírus. Porém, menos de 1% das infecções resultam em sintomas de paralisia. De 5% a 10% das infecções resultam em casos de meningite. O restante envolve sintomas gripais comuns a outras infecções virais febre, dor de garganta, dor abdominal e vômito. Por isso, o poliovírus pode se espalhar rapidamente, sem ser percebido. Após a infecção inicial, ele é eliminado intermitentemente nas fezes durante várias semanas.

E em relação às mutações sofridas pelo vírus vacinal, existem casos registrados?
No ano de 2000, ocorreu um surto no Haiti e República Dominicana, com mais de 20 casos paralíticos. Ao se isolar o vírus responsável, foi constatado que se tratava do vírus da vacina muito modificado, que readquiriu algumas características de neurovirulência.

Depois de imunizado, o indivíduo excreta o vírus atenuado já com algumas mutações. Neste aspecto, podemos pensar que é perigoso disseminar o vírus vacinal. No entanto, ele só terá capacidade de voltar a infectar em locais onde a cobertura vacinal não é adequada. Uma coisa depende da outra. No Brasil não há registro de casos deste tipo.

Qual a atual situação do Brasil quanto à adesão a campanhas anuais? Existe dificuldade de alcançar a meta de 95% de cobertura vacinal em crianças menores de 5 anos?
A população continua colaborando e as taxas de cobertura são elevadas. O modelo de vacinação, controle epidemiológico e laboratorial brasileiro serviu de exemplo para que a OMS estabelecesse a meta de erradicação da poliomielite em outros países.

Como o trabalho de vigilância é realizado no laboratório?
Atuamos no monitoramento da circulação do vírus e no desenvolvimento de testes laboratoriais. O Laboratório de Enterovírus do IOC é referência nacional e internacional para o tema. Em 1986, foi detectado um surto de poliomielite no Nordeste causado pelo sorotipo 3 do vírus. Com base nos trabalhos realizados no Brasil, a vacina foi reformulada e adotada pela OMS. Em 1991, diagnosticamos o último caso de poliomielite no continente americano, registrado no Peru. Três anos depois, o continente foi o primeiro a receber a certificação de erradicação da doença.

Renata Fontoura

08/06/2010


A poucos dias da primeira etapa da campanha nacional de vacinação, o pesquisador Edson Elias, chefe do Laboratório de Enterovírus do IOC, explica os reais perigos da reintrodução do vírus
Por: 
jornalismo

Apesar dos esforços para erradicação da poliomielite no mundo, só em 2010, até o mês de maio, foram registrados 237 casos da doença segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Desses, somente 52 foram registrados em países considerados endêmicos na África e na Ásia. Os números explicam a grande mobilização em torno da vacinação contra a poliomielite. No Brasil, país onde a erradicação da doença foi certificada pela OMS em 1994, há mais de 20 anos não há registro de casos. O sucesso é resultado das campanhas realizadas desde 1980 no país, que garantem 95% de cobertura vacinal anualmente em crianças de até cinco anos de idade.

No próximo dia 12 de junho, será realizada a primeira etapa da campanha nacional de vacinação contra a paralisia infantil. O pesquisador Edson Elias, chefe do Laboratório de Enterovírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), referência internacional para o tema, explica os reais perigos da reintrodução do vírus e reforça a importância da imunização.

O último caso de poliomielite no Brasil foi registrado em 1989. Por que a vacinação ainda é tão importante?

Enquanto forem registrados casos da doença no mundo, a vacinação precisa continuar sendo realizada. Existem países como Índia, Afeganistão, Nigéria e Paquistão que não conseguiram erradicar a poliomielite e que podem exportar o poliovírus selvagem para outros territórios antes considerados livres da doença.

Outro aspecto está relacionado com o vírus vacinal. A vacina ministrada no Brasil e em grande parte do mundo é produzida com base no vírus vivo atenuado. Ao se replicar, ele pode sofrer mutações e, se tiver a oportunidade de circular em comunidades sem cobertura vacinal adequada, pode causar surtos da doença em pessoas que não foram imunizadas. Por isso é importante que os pais continuem levando os filhos menores de 5 anos para vacinar. Com a cobertura vacinal ampla, não existe o risco de uma pessoa não vacinada contrair o vírus.

No caso da exportação de casos, como o vírus se dissemina no ambiente?

A paralisia é o sinal mais visível de infecção pelo poliovírus. Porém, menos de 1% das infecções resultam em sintomas de paralisia. De 5% a 10% das infecções resultam em casos de meningite. O restante envolve sintomas gripais comuns a outras infecções virais febre, dor de garganta, dor abdominal e vômito. Por isso, o poliovírus pode se espalhar rapidamente, sem ser percebido. Após a infecção inicial, ele é eliminado intermitentemente nas fezes durante várias semanas.

E em relação às mutações sofridas pelo vírus vacinal, existem casos registrados?

No ano de 2000, ocorreu um surto no Haiti e República Dominicana, com mais de 20 casos paralíticos. Ao se isolar o vírus responsável, foi constatado que se tratava do vírus da vacina muito modificado, que readquiriu algumas características de neurovirulência.

Depois de imunizado, o indivíduo excreta o vírus atenuado já com algumas mutações. Neste aspecto, podemos pensar que é perigoso disseminar o vírus vacinal. No entanto, ele só terá capacidade de voltar a infectar em locais onde a cobertura vacinal não é adequada. Uma coisa depende da outra. No Brasil não há registro de casos deste tipo.

Qual a atual situação do Brasil quanto à adesão a campanhas anuais? Existe dificuldade de alcançar a meta de 95% de cobertura vacinal em crianças menores de 5 anos?

A população continua colaborando e as taxas de cobertura são elevadas. O modelo de vacinação, controle epidemiológico e laboratorial brasileiro serviu de exemplo para que a OMS estabelecesse a meta de erradicação da poliomielite em outros países.

Como o trabalho de vigilância é realizado no laboratório?

Atuamos no monitoramento da circulação do vírus e no desenvolvimento de testes laboratoriais. O Laboratório de Enterovírus do IOC é referência nacional e internacional para o tema. Em 1986, foi detectado um surto de poliomielite no Nordeste causado pelo sorotipo 3 do vírus. Com base nos trabalhos realizados no Brasil, a vacina foi reformulada e adotada pela OMS. Em 1991, diagnosticamos o último caso de poliomielite no continente americano, registrado no Peru. Três anos depois, o continente foi o primeiro a receber a certificação de erradicação da doença.

Renata Fontoura

08/06/2010


Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)