Uma dupla comemoração. Na mesma semana em que os programas de pós-graduação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) receberam o resultado positivo do processo de avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Prêmio Anual IOC de Teses Alexandre Peixoto, mais importante premiação acadêmica do Instituto, chegou à décima edição.
Integrando a ‘Semana da Pós-graduação do IOC’, a entrega da premiação ocorreu no dia 15 de setembro, em sessão virtual, transmitida pelo canal do IOC no YouTube. A atividade foi mediada pelo doutorando do Programa de Biologia Celular e Molecular, Meydson Correa.
Na abertura da sessão, o vice-diretor de Ensino, Informação e Comunicação, Paulo Sergio D’Andrea, parabenizou discentes, docentes e equipes dos Programas de pós pelo alto nível acadêmico.
“Queremos parabenizar e agradecer a todos vocês, que mantiveram o nível das teses apesar de todas as dificuldades da pandemia”, declarou o vice-diretor.
Criado em 2013, o Prêmio IOC de Teses reconhece as melhores teses defendidas por doutorandos do Instituto. O nome da premiação homenageia o pesquisador Alexandre Peixoto, que faleceu precocemente na época em que coordenava a Pós em Biologia Celular e Molecular.
Em 2022, seis pesquisas foram premiadas, elevando para 59 o total de estudantes agraciados desde a primeira edição.
Os estudos destacados abordam temas de alta relevância para a ciência e a saúde, incluindo a biologia de parasitos tripanossomatídeos, causadores de agravos como leishmaniose e doença de Chagas; o desenvolvimento de novas terapias para infecções negligenciadas e resistentes a antibióticos; a biodiversidade de insetos da Amazônia; características genéticas do vírus da dengue e o ensino sobre saúde em perspectiva multidimensional na educação fundamental. Confira abaixo detalhes sobre as pesquisas.
Chamadas de espécies reativas, algumas moléculas derivadas do oxigênio são tóxicas para as células, que precisam ativar mecanismos antioxidantes de defesa, para evitar danos moleculares.
Realizada no Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular, a tese da bióloga Ana Cristina Souza Bombaça investigou a resposta de parasitos tripanossomatídeos a condições de estresse oxidativo, identificando mecanismos de resistência e possíveis alvos para terapias.
O estudo abordou três espécies de protozoários da família Trypanosomatidae: Trypanosoma cruzi, agente da doença de Chagas; Leishmania (Viannia) braziliensis, causador da leishmaniose tegumentar; e Strigomonas culicis, que infecta o mosquito Aedes aegypti.
Na primeira etapa da pesquisa, a bióloga avaliou a ação de derivados da substância β-lapachona contra o T. cruzi. As análises mostraram que os compostos, que têm ação tripanocida, provocam aumento na produção de espécies reativas de oxigênio e danos à mitocôndria, organela importante para o metabolismo energético celular. Também foi observada ativação da enzima tripanotiona redutase, que tem ação antioxidante e pode atuar como mecanismo de defesa do parasito contra o estresse oxidativo.
Ana Cristina analisou parasitos resistentes a espécies reativas, que estão associados com maior infecçãoEm outra etapa do estudo, foram realizados testes com cepas de L. (V.) braziliensis e S. culicis resistentes a espécies reativas de oxigênio e nitrogênio. A investigação identificou que os parasitos, que estão associados com maior taxa de infecção dos hospedeiros, possuem mecanismos de resistência semelhantes, incluindo a ativação de uma enzima antioxidante, chamada de ascorbato peroxidase.
“Juntos, os dados nos permitiram concluir que a exposição de tripanossomatídeos a diferentes condições de estresse leva à exacerbação de vias antioxidantes e ao remodelamento energético. Além disso, vemos que a ascorbato peroxidase é um alvo promissor na resistência tanto ao estresse oxidativo quanto ao nitrosativo”, pontuou Ana Cristina, que recebeu bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para realização da pesquisa.
Com o título “Mecanismos de resistência às espécies reativas em tripanossomatídeos: contribuição do metabolismo energético e oxidativo”, o estudo foi orientado pelo pesquisador Rubem Menna Barreto, do Laboratório de Biologia Celular, e coorientado pela pesquisadora Patrícia Cuervo Escobar, do Laboratório de Pesquisa em Leishmanioses.
Em sua tese, a bióloga Camila Cardoso Santos avaliou cerca de 70 moléculas em busca de novos tratamentos para três doenças negligenciadas causadas por parasitos tripanossomatídeos: leishmaniose cutânea, doença de Chagas e doença do sono. A doutoranda aplicou ainda técnicas de manipulação genética para identificar mecanismos de ação de substâncias e alvos promissores para o desenvolvimento de novas terapias.
Em sistema de cotutela, a pesquisa foi desenvolvida nos Programas de Pós-graduação em Biologia Parasitária do IOC e em Ciências Biomédicas da Universidade de Antuérpia, na Bélgica. O estudo foi orientado pela pesquisadora Maria de Nazaré Correia Soeiro, chefe do Laboratório de Biologia Celular do IOC, e pelos pesquisadores Guy Caljon e Louis Maes, da Universidade de Antuérpia.
Nos testes contra o parasito Leishmania amazonensis, um dos causadores da leishmaniose cutânea, foram investigados 55 compostos. Três apresentaram resultados positivos nos experimentos in vitro. Porém, não foram eficazes nos ensaios com camundongos, que são considerados modelos para estudo da doença, indicando necessidade de otimizar suas estruturas moleculares para atingir os parasitos in vivo.
Estudo de Camila Santos caracterizou modo de ação de molécula contra o T. cruzi e apontou alvos terapêuticosJá nos experimentos com os parasitos Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas, e Trypanosoma brucei ssp, que provoca a doença do sono, foram avaliadas 16 análogos de nucleosídeos. “Constatamos que essas moléculas são muito ativas in vitro e in vivo. Além disso, se mostraram metabolicamente estáveis”, ressaltou Camila.
Nos ensaios em modelo experimental da doença de Chagas, foi observada melhoria da sobrevivência e supressão da carga parasitária, embora o T. cruzi não tenha sido completamente eliminado com o tratamento.
Utilizando técnicas de manipulação genética, como o silenciamento gênico por RNA de interferência (RNAi) e o método de edição do genoma CRISPR-Cas9, a pesquisadora identificou genes importantes na biologia dos parasitos, que são impactados pela terapia com análogos de nucleosídeos.
“Esses genes são alvos com potencial para exploração no desenvolvimento de novos tratamentos”, destacou Camila.
A estudante recebeu bolsa da Capes para desenvolver a tese, que foi intitulada “Evaluation of phenotypic profile, pharmacological aspects and mechanism-of-action of novel antiparasitic agents for neglected diseases”.
A bióloga Emanuelle de Sousa Farias analisou quase nove mil insetos para desenvolver a tese “Diversidade de maruins (Diptera: Ceratopogonidae) na Amazônia Brasileira e o uso da Taxonomia Integrada”. Contemplando espécimes coletados em 12 municípios de cinco estados, a pesquisa revisou a distribuição de 40 espécies de maruins na região.
Entre outros resultados, o estudo descreveu três novas espécies do inseto, realizou a descrição inédita de machos de duas espécies e detectou uma espécie que ainda não tinha sido encontrada no Brasil. A pesquisa avaliou ainda a aplicação de métodos de taxonomia integrada, reunindo análises de características morfológicas, morfométricas e genéticas dos insetos, para aprimorar a identificação.
“A delimitação precisa da espécie é fundamental para estudos sobre biodiversidade, ecologia, epidemiologia e controle de doenças. A identificação correta do inseto é uma premissa básica para a resolução de qualquer problema entomológico”, destacou Emanuelle.
A pesquisa contemplou três famílias de maruins: Leptoconops e Culicoides – compostas por insetos hematófagos, que picam humanos e animais – e Atrichopogon – composta por insetos que se alimentam de néctar de plantas.
Emanuelle Farias mapeou 40 espécies de maruins em cinco estados, incluindo três novas espéciesDuas espécies de maruins envolvidas na transmissão de doenças foram mapeadas. Insetos Culicoides paraensis, vetores do vírus Oropouche, foram localizados no entorno de residências, na área urbana e rural, em cidades do Amazonas, Pará e Rondônia. Já insetos Culicoides insignis, transmissores do vírus da língua azul, que infecta ruminantes, foram identificados próximo de currais, em municípios do Amazonas e Pará.
Entre as novas espécies descobertas, duas foram nomeadas em homenagem a entomologistas da Fiocruz: Atrichopogon janseni, em reconhecimento ao coordenador da Fiocruz Rondônia, Jansen Fernandes de Medeiros; e Atrichopogon sergioluzi, em homenagem ao ex-diretor do Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia), Sérgio Luiz Bessa Luz. A terceira espécie recebeu o nome de Atrichopogon riopardensis em referência à localidade de Rio Pardo, onde se situa uma base de pesquisa de campo da Fiocruz Amazônia.
A tese foi orientada pelo pesquisador Felipe Arley Costa Pessoa, da Fiocruz Amazônia. O trabalho foi desenvolvido no Programa de Pós-graduação em Biodiversidade e Saúde do IOC, no âmbito do Programa de Doutorado em Ciências, estabelecido através de cooperação entre o IOC e a Fiocruz Amazônia. A estudante recebeu bolsa do Programa de Fomento ao Ensino e à Pesquisa da unidade amazonense.
Bactéria oportunista que apresenta resistência a diversos antibióticos, o microrganismo Pseudomonas aeruginosa foi classificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no grupo de prioridade crítica para o desenvolvimento de novas terapias. Um caminho que pode facilitar a busca desses novos tratamentos é apontado na tese do bacharel em computação Fernando Medeiros Filho.
Desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Biologia Computacional e Sistemas, a pesquisa apresentou a rede de regulação gênica de uma cepa multirresistente de P. aeruginosa, apontando as interações de mais de mil genes e identificando aqueles com maior influência na rede.
Um modelo computacional, que integra diferentes dados biológicos do patógeno, também foi construído na pesquisa. Para isso, foram considerados dados metabólicos e de expressão gênica da bactéria publicados na literatura. Refinado e validado através da comparação com dados experimentais, o modelo conseguiu simular a dinâmica de crescimento da bactéria.
Fernando Medeiros desenvolveu modelo da rede de regulação gênica de uma bactéria resistenteUtilizando abordagens para identificar genes com características essenciais para o patógeno e, ao mesmo tempo, distintos dos genes humanos, o estudo identificou potenciais alvos terapêuticos e apontou os cinco genes com as melhores classificações segundo o modelo integrado.
“Tendo em vista as dificuldades atuais para tratamento de infecções resistentes, é necessário acelerar o desenvolvimento de novas terapias. A medida que incluímos mais camadas no modelo computacional, mais precisas são as previsões. Isso pode acelerar as pesquisas de bancada, indicando os alvos mais promissores”, afirmou Fernando.
O estudo foi orientado pelo pesquisador Fabricio Alves Barbosa Da Silva, do Programa de Computação Científica da Fiocruz (PROCC/Fiocruz) e coorientado pela pesquisadora Ana Paula Carvalho Assef, chefe do Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do IOC. A tese recebeu o título “Identificação e caracterização de alvos terapêuticos para Pseudomonas aeruginosa através da análise de modelos integrados”.
Pacientes com dengue podem apresentar desde manifestações leves até quadros de hemorragia, com risco de morte. Desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical, a tese da bioquímica Maria Celeste Torres analisou como características genéticas do vírus da dengue se relacionam com as diferentes formas clínicas da doença.
Orientado pela pesquisadora Ana Maria Bispo de Filippis, chefe do Laboratório de Flavivírus do IOC, o estudo teve como foco a variabilidade genética intra-hospedeiros, que resulta de mutações ocorridas durante o processo de replicação viral no organismo dos pacientes.
“O vírus dengue tem um genoma de RNA. Em cada ciclo de replicação são introduzidos ‘erros’ no genoma, com substituições de nucleotídeos, que levam à alta diversidade intra-hospedeiro”, explicou Celeste.
O estudo contemplou 68 casos provocados pelo sorotipo 2 do vírus da dengue, incluindo ocorrências de dengue clássica, com sinais de alarme e grave. No total, foram identificadas 9.960 substituições de nucleotídeo único (quanto um nucleotídeo é trocado por outro diferente na sequência genética) e 520 alterações do tipo inserção ou deleção (quando nucleotídeos são acrescentados ou suprimidos no genoma).
Pesquisa de Maria Celeste analisou genomas virais em casos de dengue clássica, com sinais de alarme e graveAnalisando o perfil das variantes genéticas nas diferentes formas clínicas da doença, o estudo observou que os casos graves apresentavam principalmente variantes chamadas de sinônimas – ou seja, com alterações do código genético que não provocam mudança na estrutura do vírus. Também foram observadas mutações em trechos do genoma que poderiam afetar a interação com anticorpos, propiciando escape do sistema imune.
Por outro lado, nos casos de dengue clássica, foram detectadas variantes não sinônimas, com mutações que afetam a composição do vírus e poderiam provocar alterações funcionais.
Segundo Celeste, as análises indicam que o perfil de mutações pode ter relação com o tempo de evolução da doença, com maior ação do processo seletivo sobre as variantes nos casos mais graves.
“Vimos que a diversidade intra-hospedeiro não foi responsável pelo desfecho dos pacientes. Nenhuma das mutações analisadas parece relacionada com maior virulência ou patogenicidade. Pelo contrário, nos casos de maior gravidade, as mutações identificadas seriam apenas o resultado da superação de gargalos seletivos impostos pelas barreiras do hospedeiro humano”, declarou a autora.
A tese “Implicações da diversidade genética intra-hospedeiro do dengue vírus sorotipo 2 na patogênese da dengue” foi desenvolvida com apoio de bolsa da Capes.
Como construir um material pedagógico que favoreça um ensino de Ciências e Saúde multidimensional, processual e democrático no Ensino Fundamental I da Educação Básica?
A pergunta guiou a tese da professora Maria da Conceição Vicente Almeida, desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Ensino em Biociências e Saúde.
Orientado pelo pesquisador Paulo Pires de Queiroz, da Universidade Federal Fluminense (UFF), o estudo discutiu impressões de professores de ciências sobre o ensino da saúde na escola básica, analisou aspectos curriculares e resultou na produção de livros infanto-juvenis como uma alternativa para contribuir com o ensino sobre a temática.
“Minha pesquisa é uma etapa para que um dia as crianças possam estar aqui no nosso lugar. Que sejam preparadas com qualidade para que possam ocupar esses lugares, na Fiocruz e nas demais instituições de pesquisa, ensino e saúde”, salientou a autora do estudo.
Maria da Conceição escreveu livros infantojuvenis como estratégia pedagógica para ensino de saúde na escolaRealizada no Colégio Pedro II, a pesquisa apresentou depoimentos de docentes sobre a implantação do Ensino Fundamental I e a criação do laboratório de ciências, discutindo os primeiros modelos de aulas de ciências para crianças na unidade nos anos 1980.
O trabalho também incluiu a análise do Plano Político Pedagógico Institucional, aplicação de questionário para coletar impressões dos professores e observação de práticas pedagógicas no laboratório de ciências. Além de chamar atenção para a importância da perspectiva multidimensional da saúde na escola, uma vez que o tema frequentemente é abordado a partir das questões biológicas, o estudo evidenciou o potencial dos livros infantojuvenis como estratégia pedagógica.
Quatro livros infantojuvenis foram produzidos na pesquisa, compondo a coleção ‘Saúde Multidimensional Infantil’, que aborda temas como imagem corporal, meio ambiente e história da ciência, ente outros.
“O ensino de saúde é uma oportunidade ímpar para discutir de forma crítico-reflexiva as razoes que propiciam ou impedem qualidade de vida adequada para aqueles que estão no espaço escolar. A produção de livros infantojuvenis pode efetivamente contribuir como forma de ampliar os caminhos para um debate profundo”, salientou a autora da tese ‘Era uma vez uma professora que contava histórias e dava vida ao currículo: ensino de ciências e saúde, prática curricular e livros infantojuvenis’.
Uma dupla comemoração. Na mesma semana em que os programas de pós-graduação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) receberam o resultado positivo do processo de avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Prêmio Anual IOC de Teses Alexandre Peixoto, mais importante premiação acadêmica do Instituto, chegou à décima edição.
Integrando a ‘Semana da Pós-graduação do IOC’, a entrega da premiação ocorreu no dia 15 de setembro, em sessão virtual, transmitida pelo canal do IOC no YouTube. A atividade foi mediada pelo doutorando do Programa de Biologia Celular e Molecular, Meydson Correa.
Na abertura da sessão, o vice-diretor de Ensino, Informação e Comunicação, Paulo Sergio D’Andrea, parabenizou discentes, docentes e equipes dos Programas de pós pelo alto nível acadêmico.
“Queremos parabenizar e agradecer a todos vocês, que mantiveram o nível das teses apesar de todas as dificuldades da pandemia”, declarou o vice-diretor.
Criado em 2013, o Prêmio IOC de Teses reconhece as melhores teses defendidas por doutorandos do Instituto. O nome da premiação homenageia o pesquisador Alexandre Peixoto, que faleceu precocemente na época em que coordenava a Pós em Biologia Celular e Molecular.
Em 2022, seis pesquisas foram premiadas, elevando para 59 o total de estudantes agraciados desde a primeira edição.
Os estudos destacados abordam temas de alta relevância para a ciência e a saúde, incluindo a biologia de parasitos tripanossomatídeos, causadores de agravos como leishmaniose e doença de Chagas; o desenvolvimento de novas terapias para infecções negligenciadas e resistentes a antibióticos; a biodiversidade de insetos da Amazônia; características genéticas do vírus da dengue e o ensino sobre saúde em perspectiva multidimensional na educação fundamental. Confira abaixo detalhes sobre as pesquisas.
Chamadas de espécies reativas, algumas moléculas derivadas do oxigênio são tóxicas para as células, que precisam ativar mecanismos antioxidantes de defesa, para evitar danos moleculares.
Realizada no Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular, a tese da bióloga Ana Cristina Souza Bombaça investigou a resposta de parasitos tripanossomatídeos a condições de estresse oxidativo, identificando mecanismos de resistência e possíveis alvos para terapias.
O estudo abordou três espécies de protozoários da família Trypanosomatidae: Trypanosoma cruzi, agente da doença de Chagas; Leishmania (Viannia) braziliensis, causador da leishmaniose tegumentar; e Strigomonas culicis, que infecta o mosquito Aedes aegypti.
Na primeira etapa da pesquisa, a bióloga avaliou a ação de derivados da substância β-lapachona contra o T. cruzi. As análises mostraram que os compostos, que têm ação tripanocida, provocam aumento na produção de espécies reativas de oxigênio e danos à mitocôndria, organela importante para o metabolismo energético celular. Também foi observada ativação da enzima tripanotiona redutase, que tem ação antioxidante e pode atuar como mecanismo de defesa do parasito contra o estresse oxidativo.
Ana Cristina analisou parasitos resistentes a espécies reativas, que estão associados com maior infecçãoEm outra etapa do estudo, foram realizados testes com cepas de L. (V.) braziliensis e S. culicis resistentes a espécies reativas de oxigênio e nitrogênio. A investigação identificou que os parasitos, que estão associados com maior taxa de infecção dos hospedeiros, possuem mecanismos de resistência semelhantes, incluindo a ativação de uma enzima antioxidante, chamada de ascorbato peroxidase.
“Juntos, os dados nos permitiram concluir que a exposição de tripanossomatídeos a diferentes condições de estresse leva à exacerbação de vias antioxidantes e ao remodelamento energético. Além disso, vemos que a ascorbato peroxidase é um alvo promissor na resistência tanto ao estresse oxidativo quanto ao nitrosativo”, pontuou Ana Cristina, que recebeu bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para realização da pesquisa.
Com o título “Mecanismos de resistência às espécies reativas em tripanossomatídeos: contribuição do metabolismo energético e oxidativo”, o estudo foi orientado pelo pesquisador Rubem Menna Barreto, do Laboratório de Biologia Celular, e coorientado pela pesquisadora Patrícia Cuervo Escobar, do Laboratório de Pesquisa em Leishmanioses.
Em sua tese, a bióloga Camila Cardoso Santos avaliou cerca de 70 moléculas em busca de novos tratamentos para três doenças negligenciadas causadas por parasitos tripanossomatídeos: leishmaniose cutânea, doença de Chagas e doença do sono. A doutoranda aplicou ainda técnicas de manipulação genética para identificar mecanismos de ação de substâncias e alvos promissores para o desenvolvimento de novas terapias.
Em sistema de cotutela, a pesquisa foi desenvolvida nos Programas de Pós-graduação em Biologia Parasitária do IOC e em Ciências Biomédicas da Universidade de Antuérpia, na Bélgica. O estudo foi orientado pela pesquisadora Maria de Nazaré Correia Soeiro, chefe do Laboratório de Biologia Celular do IOC, e pelos pesquisadores Guy Caljon e Louis Maes, da Universidade de Antuérpia.
Nos testes contra o parasito Leishmania amazonensis, um dos causadores da leishmaniose cutânea, foram investigados 55 compostos. Três apresentaram resultados positivos nos experimentos in vitro. Porém, não foram eficazes nos ensaios com camundongos, que são considerados modelos para estudo da doença, indicando necessidade de otimizar suas estruturas moleculares para atingir os parasitos in vivo.
Estudo de Camila Santos caracterizou modo de ação de molécula contra o T. cruzi e apontou alvos terapêuticosJá nos experimentos com os parasitos Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas, e Trypanosoma brucei ssp, que provoca a doença do sono, foram avaliadas 16 análogos de nucleosídeos. “Constatamos que essas moléculas são muito ativas in vitro e in vivo. Além disso, se mostraram metabolicamente estáveis”, ressaltou Camila.
Nos ensaios em modelo experimental da doença de Chagas, foi observada melhoria da sobrevivência e supressão da carga parasitária, embora o T. cruzi não tenha sido completamente eliminado com o tratamento.
Utilizando técnicas de manipulação genética, como o silenciamento gênico por RNA de interferência (RNAi) e o método de edição do genoma CRISPR-Cas9, a pesquisadora identificou genes importantes na biologia dos parasitos, que são impactados pela terapia com análogos de nucleosídeos.
“Esses genes são alvos com potencial para exploração no desenvolvimento de novos tratamentos”, destacou Camila.
A estudante recebeu bolsa da Capes para desenvolver a tese, que foi intitulada “Evaluation of phenotypic profile, pharmacological aspects and mechanism-of-action of novel antiparasitic agents for neglected diseases”.
A bióloga Emanuelle de Sousa Farias analisou quase nove mil insetos para desenvolver a tese “Diversidade de maruins (Diptera: Ceratopogonidae) na Amazônia Brasileira e o uso da Taxonomia Integrada”. Contemplando espécimes coletados em 12 municípios de cinco estados, a pesquisa revisou a distribuição de 40 espécies de maruins na região.
Entre outros resultados, o estudo descreveu três novas espécies do inseto, realizou a descrição inédita de machos de duas espécies e detectou uma espécie que ainda não tinha sido encontrada no Brasil. A pesquisa avaliou ainda a aplicação de métodos de taxonomia integrada, reunindo análises de características morfológicas, morfométricas e genéticas dos insetos, para aprimorar a identificação.
“A delimitação precisa da espécie é fundamental para estudos sobre biodiversidade, ecologia, epidemiologia e controle de doenças. A identificação correta do inseto é uma premissa básica para a resolução de qualquer problema entomológico”, destacou Emanuelle.
A pesquisa contemplou três famílias de maruins: Leptoconops e Culicoides – compostas por insetos hematófagos, que picam humanos e animais – e Atrichopogon – composta por insetos que se alimentam de néctar de plantas.
Emanuelle Farias mapeou 40 espécies de maruins em cinco estados, incluindo três novas espéciesDuas espécies de maruins envolvidas na transmissão de doenças foram mapeadas. Insetos Culicoides paraensis, vetores do vírus Oropouche, foram localizados no entorno de residências, na área urbana e rural, em cidades do Amazonas, Pará e Rondônia. Já insetos Culicoides insignis, transmissores do vírus da língua azul, que infecta ruminantes, foram identificados próximo de currais, em municípios do Amazonas e Pará.
Entre as novas espécies descobertas, duas foram nomeadas em homenagem a entomologistas da Fiocruz: Atrichopogon janseni, em reconhecimento ao coordenador da Fiocruz Rondônia, Jansen Fernandes de Medeiros; e Atrichopogon sergioluzi, em homenagem ao ex-diretor do Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia), Sérgio Luiz Bessa Luz. A terceira espécie recebeu o nome de Atrichopogon riopardensis em referência à localidade de Rio Pardo, onde se situa uma base de pesquisa de campo da Fiocruz Amazônia.
A tese foi orientada pelo pesquisador Felipe Arley Costa Pessoa, da Fiocruz Amazônia. O trabalho foi desenvolvido no Programa de Pós-graduação em Biodiversidade e Saúde do IOC, no âmbito do Programa de Doutorado em Ciências, estabelecido através de cooperação entre o IOC e a Fiocruz Amazônia. A estudante recebeu bolsa do Programa de Fomento ao Ensino e à Pesquisa da unidade amazonense.
Bactéria oportunista que apresenta resistência a diversos antibióticos, o microrganismo Pseudomonas aeruginosa foi classificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no grupo de prioridade crítica para o desenvolvimento de novas terapias. Um caminho que pode facilitar a busca desses novos tratamentos é apontado na tese do bacharel em computação Fernando Medeiros Filho.
Desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Biologia Computacional e Sistemas, a pesquisa apresentou a rede de regulação gênica de uma cepa multirresistente de P. aeruginosa, apontando as interações de mais de mil genes e identificando aqueles com maior influência na rede.
Um modelo computacional, que integra diferentes dados biológicos do patógeno, também foi construído na pesquisa. Para isso, foram considerados dados metabólicos e de expressão gênica da bactéria publicados na literatura. Refinado e validado através da comparação com dados experimentais, o modelo conseguiu simular a dinâmica de crescimento da bactéria.
Fernando Medeiros desenvolveu modelo da rede de regulação gênica de uma bactéria resistenteUtilizando abordagens para identificar genes com características essenciais para o patógeno e, ao mesmo tempo, distintos dos genes humanos, o estudo identificou potenciais alvos terapêuticos e apontou os cinco genes com as melhores classificações segundo o modelo integrado.
“Tendo em vista as dificuldades atuais para tratamento de infecções resistentes, é necessário acelerar o desenvolvimento de novas terapias. A medida que incluímos mais camadas no modelo computacional, mais precisas são as previsões. Isso pode acelerar as pesquisas de bancada, indicando os alvos mais promissores”, afirmou Fernando.
O estudo foi orientado pelo pesquisador Fabricio Alves Barbosa Da Silva, do Programa de Computação Científica da Fiocruz (PROCC/Fiocruz) e coorientado pela pesquisadora Ana Paula Carvalho Assef, chefe do Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do IOC. A tese recebeu o título “Identificação e caracterização de alvos terapêuticos para Pseudomonas aeruginosa através da análise de modelos integrados”.
Pacientes com dengue podem apresentar desde manifestações leves até quadros de hemorragia, com risco de morte. Desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical, a tese da bioquímica Maria Celeste Torres analisou como características genéticas do vírus da dengue se relacionam com as diferentes formas clínicas da doença.
Orientado pela pesquisadora Ana Maria Bispo de Filippis, chefe do Laboratório de Flavivírus do IOC, o estudo teve como foco a variabilidade genética intra-hospedeiros, que resulta de mutações ocorridas durante o processo de replicação viral no organismo dos pacientes.
“O vírus dengue tem um genoma de RNA. Em cada ciclo de replicação são introduzidos ‘erros’ no genoma, com substituições de nucleotídeos, que levam à alta diversidade intra-hospedeiro”, explicou Celeste.
O estudo contemplou 68 casos provocados pelo sorotipo 2 do vírus da dengue, incluindo ocorrências de dengue clássica, com sinais de alarme e grave. No total, foram identificadas 9.960 substituições de nucleotídeo único (quanto um nucleotídeo é trocado por outro diferente na sequência genética) e 520 alterações do tipo inserção ou deleção (quando nucleotídeos são acrescentados ou suprimidos no genoma).
Pesquisa de Maria Celeste analisou genomas virais em casos de dengue clássica, com sinais de alarme e graveAnalisando o perfil das variantes genéticas nas diferentes formas clínicas da doença, o estudo observou que os casos graves apresentavam principalmente variantes chamadas de sinônimas – ou seja, com alterações do código genético que não provocam mudança na estrutura do vírus. Também foram observadas mutações em trechos do genoma que poderiam afetar a interação com anticorpos, propiciando escape do sistema imune.
Por outro lado, nos casos de dengue clássica, foram detectadas variantes não sinônimas, com mutações que afetam a composição do vírus e poderiam provocar alterações funcionais.
Segundo Celeste, as análises indicam que o perfil de mutações pode ter relação com o tempo de evolução da doença, com maior ação do processo seletivo sobre as variantes nos casos mais graves.
“Vimos que a diversidade intra-hospedeiro não foi responsável pelo desfecho dos pacientes. Nenhuma das mutações analisadas parece relacionada com maior virulência ou patogenicidade. Pelo contrário, nos casos de maior gravidade, as mutações identificadas seriam apenas o resultado da superação de gargalos seletivos impostos pelas barreiras do hospedeiro humano”, declarou a autora.
A tese “Implicações da diversidade genética intra-hospedeiro do dengue vírus sorotipo 2 na patogênese da dengue” foi desenvolvida com apoio de bolsa da Capes.
Como construir um material pedagógico que favoreça um ensino de Ciências e Saúde multidimensional, processual e democrático no Ensino Fundamental I da Educação Básica?
A pergunta guiou a tese da professora Maria da Conceição Vicente Almeida, desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Ensino em Biociências e Saúde.
Orientado pelo pesquisador Paulo Pires de Queiroz, da Universidade Federal Fluminense (UFF), o estudo discutiu impressões de professores de ciências sobre o ensino da saúde na escola básica, analisou aspectos curriculares e resultou na produção de livros infanto-juvenis como uma alternativa para contribuir com o ensino sobre a temática.
“Minha pesquisa é uma etapa para que um dia as crianças possam estar aqui no nosso lugar. Que sejam preparadas com qualidade para que possam ocupar esses lugares, na Fiocruz e nas demais instituições de pesquisa, ensino e saúde”, salientou a autora do estudo.
Maria da Conceição escreveu livros infantojuvenis como estratégia pedagógica para ensino de saúde na escolaRealizada no Colégio Pedro II, a pesquisa apresentou depoimentos de docentes sobre a implantação do Ensino Fundamental I e a criação do laboratório de ciências, discutindo os primeiros modelos de aulas de ciências para crianças na unidade nos anos 1980.
O trabalho também incluiu a análise do Plano Político Pedagógico Institucional, aplicação de questionário para coletar impressões dos professores e observação de práticas pedagógicas no laboratório de ciências. Além de chamar atenção para a importância da perspectiva multidimensional da saúde na escola, uma vez que o tema frequentemente é abordado a partir das questões biológicas, o estudo evidenciou o potencial dos livros infantojuvenis como estratégia pedagógica.
Quatro livros infantojuvenis foram produzidos na pesquisa, compondo a coleção ‘Saúde Multidimensional Infantil’, que aborda temas como imagem corporal, meio ambiente e história da ciência, ente outros.
“O ensino de saúde é uma oportunidade ímpar para discutir de forma crítico-reflexiva as razoes que propiciam ou impedem qualidade de vida adequada para aqueles que estão no espaço escolar. A produção de livros infantojuvenis pode efetivamente contribuir como forma de ampliar os caminhos para um debate profundo”, salientou a autora da tese ‘Era uma vez uma professora que contava histórias e dava vida ao currículo: ensino de ciências e saúde, prática curricular e livros infantojuvenis’.
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)