Para quem ainda não está familiarizado com o debate sobre a relação entre ciência e mídia, o Seminário Ciência como Notícia, promovido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) no dia 26 de março, valeu como uma boa introdução ao tema. Durante o evento, os participantes tiveram a chance de assistir e participar de palestras sobre políticas de popularização da ciência, análise da cobertura de ciência, ciência na TV e ciência em novas mídias.
Gutemberg Brito
Luisa apresentou dados de uma pesquisa sobre a cobertura da influenza H1N1 no Jornal Nacional
Pesquisa em jornalismo
Na parte da manhã, o seminário recebeu a chefe do Museu da Vida, Luisa Massarani, e o diretor do Depto. de Difusão e Popularização da Ciência do MCT, Ildeu de Castro Moreira.
Luisa apresentou dados de sua pesquisa sobre a cobertura da influenza H1N1 no Jornal Nacional, realizada pelo Núcleo de Divulgação Científica do Museu da Vida.
Após mostrar um cronograma do desenvolvimento da doença, que em abril de 2009 começou a ganhar a cobertura da mídia e em 11 de junho foi declarada pandemia pela Organização Mundial da Saúde, Luisa explicou que foram analisadas as reportagens publicadas pelo Jornal Nacional de abril a agosto do ano passado.
Telejornal de maior audiência no país, o JN publicou no período coberto pela pesquisa 156 matérias sobre a influenza H1N1, com pico nos meses de maio, quando a pandemia atingiu o Brasil e em julho, quando normalmente há maior incidência de doenças respiratórias no país.
“A gripe chegou a ocupar 43% do tempo de uma edição do Jornal Nacional. Isso é um escândalo. Matérias de ciência não entram com este destaque”, afirmou a pesquisadora. Além disso, do total, 62 matérias renderam chamadas de abertura.
Porém, apesar do tempo dedicado a algumas grandes matérias, o tempo médio das matérias foi de apenas 1 minuto e 45 segundos. “Este tempo pode ser pouco para uma boa contextualização”, analisou Luisa.
Outro problema, segundo ela, “é que apenas 3% das matérias mostravam algum background científico e muitas apenas destacavam o número de mortes”. “Os comentários dos apresentadores e o uso de imagens de hospitais cheios podem ter ajudado no clima de pânico da população em relação à doença”, defendeu.
Em relação às controvérsias, apenas 3,8% das matérias abordavam a questão. A pesquisadora também explica que o JN não abordou o risco no uso de medicamentos e poucas matérias discutiam os sintomas da doença e sua comparação com a gripe comum.
Para ela, o estudo ressalta o desafio de se colocar a ciência e tecnologia em pauta. “Podemos aproveitar episódios como o da gripe e, não só com assessoria de imprensa, mas com a ação da comunidade científica, colocar os temas de ciência nos telejornais”, pontuou Luisa.
Desafio
Ildeu Moreira, em sua palestra O desafio de popularizar a ciência, corroborou que é necessária uma maior participação da comunidade científica na divulgação científica e que os debates precisam se transformar em políticas públicas para a área. Segundo ele, a IV Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), prevista para os dias 26 a 28 de maio, terá entre um de seus eixos temáticos CT&I para o desenvolvimento social. “Será um espaço importante para a discussão da divulgação – seja em jornais, televisão ou museus – e como transformá-la em política pública, de longo prazo, políticas de estado e não de governo”, disse.
Gutemberg Brito
Desigualdade no acesso à ciência é um grande desafio
para o país, defende Ildeu
Segundo Ildeu, um dos desafios colocados na área é a desigualdade regional. “Não há somente desigualdade econômica, hoje há mais de 200 centros e museus de ciência no país, mas a maioria está nas regiões Sudeste e Sul. Mesmo na periferia do Rio de Janeiro não há oportunidades de acesso à ciência”, destacou Ildeu.
Na região Norte, a mais fragilizada em número de centros de ciência, há apenas um planetário, localizado em Belém, no Pará. “Uma pessoa no Acre teria que viajar 2.400 km de barco para chegar a um planetário. É para resolver problemas com este que precisamos de definição política e, para termos políticas, precisamos do engajamento de estudantes, pesquisadores e cidadãos. Todos têm direito ao acesso à informação em C&T”, defendeu. Ele mostrou alguns resultados de uma pesquisa nacional em que 41% dos brasileiros dizem se interessar por assuntos ligados à ciência, mas apenas 4% deles declaram ter visitado um centro de ciências no último ano.
Ildeu também explicou que apesar da baixa visitação aos museus de ciências, 28% dos entrevistados declararam ter visitados jardins botânicos ou zoológicos. “Mas nós ainda não utilizamos estes espaços para a educação ambiental, por exemplo. Poderíamos ter um ecomuseu, conectado com o entretenimento dos visitantes”, lamentou.
Ao citar algumas iniciativas positivas na área de educação não formal – sempre ressaltando que ainda há muito a ser feito –, ele destacou a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas, que em 2009 contou com a participação de mais de 19 milhões de estudantes. “É a maior olimpíada do mundo e o presidente entrega a medalha a 300 alunos de todo o país. Esse é um reconhecimento muito importante. Negros, índios, mulheres do interior recebem a medalha direto da mão do presidente”, frisou.
Outro ponto colocado por ele é que muitos cientistas defendem que não é possível fazer, ao mesmo tempo, divulgação científica e boa ciência. “A Olimpíada é organizada pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada, o terceiro melhor centro de matemática do mundo. Divulgação científica não diminui qualidade e nem número de papers. É uma obrigação das instituições”, sintetizou.
Gutemberg Brito
Web 2.0 está cada vez mais presente na divulgação científica, mostrou Bernardo Esteves
Novas ferramentas
Na parte da tarde, o editor do site Ciência Hoje Online, Bernardo Esteves mostrou as diferenças entre a web 1.0 e a 2.0, destacando as novas possibilidades para a divulgação da ciência e para a ciência como um todo. “O leitor agora publica, as páginas pessoais se tornaram blogs, a Enciclopédia Britânica equivale a Wikipedia e as newsletters foram substituídas pelo RRS. Há uma diferente relação com o fluxo de conteúdo”, diz.
Ele citou o portal arXiv.org, da Cornell University, como um novo processo de avaliação por pares. “Enquanto você espera o resultado da avaliação de uma revista, é possível publicar seu artigo no portal e receber comentários de pesquisadores da sua e de outras áreas. Não há filtro, é uma avaliação informal”, explica.
Utilizado mais pelos pesquisadores da área de exatas, o portal já conta com 595.450 artigos nas áreas de física, matemática, ciência da computação, ciências biológicas e economia.
Outro grande portal, o PubMed, uma base de dados de resumos e artigos completos na área de biomedicina e ciências da vida, tem utilizado uma ferramenta típica da web 2.0, ressaltou Esteves. “A partir do perfil e da busca de artigos feita pelo usuário, o portal faz recomendações de outros artigos interessantes. É o mesmo sistema utilizado pela Amazon.com”, exemplificou.
Em relação à divulgação da ciência, ele conta que no fim do ano passado o site da CH Online foi reformulado. "Entramos para o universo da web 2.0, caracterizado por uma maior participação do público na produção e avaliação do conteúdo publicado. Uma das novidades do novo portal é a possibilidade de os leitores incluírem comentários ao final de cada texto", contou.
Os leitores podem ainda seguir a revista no Twitter, microblog que permite a troca de mensagens curtas com grande rapidez, e acessar vídeos e podcasts no site. Além disso, o conteúdo do site está dividido em “tags”. Ao clicar em uma dessas categorias, o leitor terá acesso a vários textos sobre o mesmo tema, explicou.
Já a visão do cientista sobre as mídias digitais e a divulgação científica foi dada pelo blogueiro e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Stevens Rehen.
Gutemberg Brito
Stevens percebeu importância da mídia ao lutar pelo fim da burocracia para importação de reagentes
Ele conta que percebeu a importância da mídia para a ciência quando, ainda em seu pós-doutorado no Estados Unidos, escreveu uma carta à Nature sobre a burocracia brasileira para a importação de materiais e reagentes para a pesquisa. “Assim que foi publicada, vários jornalistas do Brasil começaram a me ligar. A carta teve grande repercussão nos jornais e acabamos fazendo contato com o Ministério da Saúde e o de Ciência e Tecnologia. Ainda falta muito, mas algumas decisões foram tomadas para acelerar o processo e eu percebi que as matérias reverberam e dão resultados”, comentou Stevens.
O pesquisador, que mantém um blog com o seu nome dentro do portal do jornalista Sidney Rezende, enalteceu o papel do blog para a divulgação científica. “Meu livro ‘Células-tronco: O que são? Para que servem?’ vendeu 4 mil exemplares. Foi um grande prazer, mas é impossível comparar com o alcance da web. Hoje, o blog recebe duas mil visitas por mês”, compara.
Gutemberg Brito
"É um programa muito difícil de se fazer, mas que tem que ser fácil de entender e de assistir. É um aprendizado diário", conta Alexandre sobre o Globo Ciência
Ciência na TV
Um dos grandes desafios da divulgação científica – a presença da ciência na TV – também foi comentada por Stevens. Ele mostrou uma cena da novela Viver a Vida, transmitida pela Rede Globo no horário nobre, que mostrava uma consulta médica sobre o uso terapêutico de células-tronco para tratamento da lesão na coluna vertebral de uma das personagens. A cena, extremamente didática, mostra com precisão o quadro atual das pesquisas científicas com células-tronco e adverte que ainda não há tratamentos aprovados. O segredo da precisão, revela Stevens, foi que a cena foi escrita a oito mãos por pesquisadores da UFRJ e pelos redatores da novela.
“Foi uma excelente iniciativa. Mostra que é possível uma colaboração e que temas de ciência podem estar na novela e serem assistidos por milhões de brasileiros”, avaliou.
O apresentador Alexandre Henderson fechou o evento comentando um pouco sobre o dia a dia da realização do programa Globo Ciência. “É um programa muito difícil de se fazer, mas que tem que ser fácil de entender e de assistir. É um aprendizado diário. O primeiro roteiro que eu li, pensei: ‘Vou ter que estudar muito’”, contou.
Ele lembra que a qualidade da informação é muito importante, mas que também é preciso ter uma linguagem simples. “O programa tem uma tradição de 25 anos e abarca um público de adolescentes de 16 anos a idosos e pessoas de todas as faixas de renda”, ressaltou.
Ele contou que ao entrevistar um cientista busca mostrar de forma simples a ciência, inclusive com o uso de metáforas. “Se a fala do cientista é muito complicada, tento na minha fala explicar de uma forma menos técnica. O programa visa mostrar que há ciência em tudo, no falar, no ouvir, no enxergar, no viver e que é importante para todos entender um pouco disso.”
Luís Amorim
31/03/10
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Para quem ainda não está familiarizado com o debate sobre a relação entre ciência e mídia, o Seminário Ciência como Notícia, promovido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) no dia 26 de março, valeu como uma boa introdução ao tema. Durante o evento, os participantes tiveram a chance de assistir e participar de palestras sobre políticas de popularização da ciência, análise da cobertura de ciência, ciência na TV e ciência em novas mídias.
Gutemberg Brito
Luisa apresentou dados de uma pesquisa sobre a cobertura da influenza H1N1 no Jornal Nacional
Pesquisa em jornalismo
Na parte da manhã, o seminário recebeu a chefe do Museu da Vida, Luisa Massarani, e o diretor do Depto. de Difusão e Popularização da Ciência do MCT, Ildeu de Castro Moreira.
Luisa apresentou dados de sua pesquisa sobre a cobertura da influenza H1N1 no Jornal Nacional, realizada pelo Núcleo de Divulgação Científica do Museu da Vida.
Após mostrar um cronograma do desenvolvimento da doença, que em abril de 2009 começou a ganhar a cobertura da mídia e em 11 de junho foi declarada pandemia pela Organização Mundial da Saúde, Luisa explicou que foram analisadas as reportagens publicadas pelo Jornal Nacional de abril a agosto do ano passado.
Telejornal de maior audiência no país, o JN publicou no período coberto pela pesquisa 156 matérias sobre a influenza H1N1, com pico nos meses de maio, quando a pandemia atingiu o Brasil e em julho, quando normalmente há maior incidência de doenças respiratórias no país.
“A gripe chegou a ocupar 43% do tempo de uma edição do Jornal Nacional. Isso é um escândalo. Matérias de ciência não entram com este destaque”, afirmou a pesquisadora. Além disso, do total, 62 matérias renderam chamadas de abertura.
Porém, apesar do tempo dedicado a algumas grandes matérias, o tempo médio das matérias foi de apenas 1 minuto e 45 segundos. “Este tempo pode ser pouco para uma boa contextualização”, analisou Luisa.
Outro problema, segundo ela, “é que apenas 3% das matérias mostravam algum background científico e muitas apenas destacavam o número de mortes”. “Os comentários dos apresentadores e o uso de imagens de hospitais cheios podem ter ajudado no clima de pânico da população em relação à doença”, defendeu.
Em relação às controvérsias, apenas 3,8% das matérias abordavam a questão. A pesquisadora também explica que o JN não abordou o risco no uso de medicamentos e poucas matérias discutiam os sintomas da doença e sua comparação com a gripe comum.
Para ela, o estudo ressalta o desafio de se colocar a ciência e tecnologia em pauta. “Podemos aproveitar episódios como o da gripe e, não só com assessoria de imprensa, mas com a ação da comunidade científica, colocar os temas de ciência nos telejornais”, pontuou Luisa.
Desafio
Ildeu Moreira, em sua palestra O desafio de popularizar a ciência, corroborou que é necessária uma maior participação da comunidade científica na divulgação científica e que os debates precisam se transformar em políticas públicas para a área. Segundo ele, a IV Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), prevista para os dias 26 a 28 de maio, terá entre um de seus eixos temáticos CT&I para o desenvolvimento social. “Será um espaço importante para a discussão da divulgação – seja em jornais, televisão ou museus – e como transformá-la em política pública, de longo prazo, políticas de estado e não de governo”, disse.
Gutemberg Brito
Desigualdade no acesso à ciência é um grande desafio
para o país, defende Ildeu
Segundo Ildeu, um dos desafios colocados na área é a desigualdade regional. “Não há somente desigualdade econômica, hoje há mais de 200 centros e museus de ciência no país, mas a maioria está nas regiões Sudeste e Sul. Mesmo na periferia do Rio de Janeiro não há oportunidades de acesso à ciência”, destacou Ildeu.
Na região Norte, a mais fragilizada em número de centros de ciência, há apenas um planetário, localizado em Belém, no Pará. “Uma pessoa no Acre teria que viajar 2.400 km de barco para chegar a um planetário. É para resolver problemas com este que precisamos de definição política e, para termos políticas, precisamos do engajamento de estudantes, pesquisadores e cidadãos. Todos têm direito ao acesso à informação em C&T”, defendeu. Ele mostrou alguns resultados de uma pesquisa nacional em que 41% dos brasileiros dizem se interessar por assuntos ligados à ciência, mas apenas 4% deles declaram ter visitado um centro de ciências no último ano.
Ildeu também explicou que apesar da baixa visitação aos museus de ciências, 28% dos entrevistados declararam ter visitados jardins botânicos ou zoológicos. “Mas nós ainda não utilizamos estes espaços para a educação ambiental, por exemplo. Poderíamos ter um ecomuseu, conectado com o entretenimento dos visitantes”, lamentou.
Ao citar algumas iniciativas positivas na área de educação não formal – sempre ressaltando que ainda há muito a ser feito –, ele destacou a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas, que em 2009 contou com a participação de mais de 19 milhões de estudantes. “É a maior olimpíada do mundo e o presidente entrega a medalha a 300 alunos de todo o país. Esse é um reconhecimento muito importante. Negros, índios, mulheres do interior recebem a medalha direto da mão do presidente”, frisou.
Outro ponto colocado por ele é que muitos cientistas defendem que não é possível fazer, ao mesmo tempo, divulgação científica e boa ciência. “A Olimpíada é organizada pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada, o terceiro melhor centro de matemática do mundo. Divulgação científica não diminui qualidade e nem número de papers. É uma obrigação das instituições”, sintetizou.
Gutemberg Brito
Web 2.0 está cada vez mais presente na divulgação científica, mostrou Bernardo Esteves
Novas ferramentas
Na parte da tarde, o editor do site Ciência Hoje Online, Bernardo Esteves mostrou as diferenças entre a web 1.0 e a 2.0, destacando as novas possibilidades para a divulgação da ciência e para a ciência como um todo. “O leitor agora publica, as páginas pessoais se tornaram blogs, a Enciclopédia Britânica equivale a Wikipedia e as newsletters foram substituídas pelo RRS. Há uma diferente relação com o fluxo de conteúdo”, diz.
Ele citou o portal arXiv.org, da Cornell University, como um novo processo de avaliação por pares. “Enquanto você espera o resultado da avaliação de uma revista, é possível publicar seu artigo no portal e receber comentários de pesquisadores da sua e de outras áreas. Não há filtro, é uma avaliação informal”, explica.
Utilizado mais pelos pesquisadores da área de exatas, o portal já conta com 595.450 artigos nas áreas de física, matemática, ciência da computação, ciências biológicas e economia.
Outro grande portal, o PubMed, uma base de dados de resumos e artigos completos na área de biomedicina e ciências da vida, tem utilizado uma ferramenta típica da web 2.0, ressaltou Esteves. “A partir do perfil e da busca de artigos feita pelo usuário, o portal faz recomendações de outros artigos interessantes. É o mesmo sistema utilizado pela Amazon.com”, exemplificou.
Em relação à divulgação da ciência, ele conta que no fim do ano passado o site da CH Online foi reformulado. "Entramos para o universo da web 2.0, caracterizado por uma maior participação do público na produção e avaliação do conteúdo publicado. Uma das novidades do novo portal é a possibilidade de os leitores incluírem comentários ao final de cada texto", contou.
Os leitores podem ainda seguir a revista no Twitter, microblog que permite a troca de mensagens curtas com grande rapidez, e acessar vídeos e podcasts no site. Além disso, o conteúdo do site está dividido em “tags”. Ao clicar em uma dessas categorias, o leitor terá acesso a vários textos sobre o mesmo tema, explicou.
Já a visão do cientista sobre as mídias digitais e a divulgação científica foi dada pelo blogueiro e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Stevens Rehen.
Gutemberg Brito
Stevens percebeu importância da mídia ao lutar pelo fim da burocracia para importação de reagentes
Ele conta que percebeu a importância da mídia para a ciência quando, ainda em seu pós-doutorado no Estados Unidos, escreveu uma carta à Nature sobre a burocracia brasileira para a importação de materiais e reagentes para a pesquisa. “Assim que foi publicada, vários jornalistas do Brasil começaram a me ligar. A carta teve grande repercussão nos jornais e acabamos fazendo contato com o Ministério da Saúde e o de Ciência e Tecnologia. Ainda falta muito, mas algumas decisões foram tomadas para acelerar o processo e eu percebi que as matérias reverberam e dão resultados”, comentou Stevens.
O pesquisador, que mantém um blog com o seu nome dentro do portal do jornalista Sidney Rezende, enalteceu o papel do blog para a divulgação científica. “Meu livro ‘Células-tronco: O que são? Para que servem?’ vendeu 4 mil exemplares. Foi um grande prazer, mas é impossível comparar com o alcance da web. Hoje, o blog recebe duas mil visitas por mês”, compara.
Gutemberg Brito
"É um programa muito difícil de se fazer, mas que tem que ser fácil de entender e de assistir. É um aprendizado diário", conta Alexandre sobre o Globo Ciência
Ciência na TV
Um dos grandes desafios da divulgação científica – a presença da ciência na TV – também foi comentada por Stevens. Ele mostrou uma cena da novela Viver a Vida, transmitida pela Rede Globo no horário nobre, que mostrava uma consulta médica sobre o uso terapêutico de células-tronco para tratamento da lesão na coluna vertebral de uma das personagens. A cena, extremamente didática, mostra com precisão o quadro atual das pesquisas científicas com células-tronco e adverte que ainda não há tratamentos aprovados. O segredo da precisão, revela Stevens, foi que a cena foi escrita a oito mãos por pesquisadores da UFRJ e pelos redatores da novela.
“Foi uma excelente iniciativa. Mostra que é possível uma colaboração e que temas de ciência podem estar na novela e serem assistidos por milhões de brasileiros”, avaliou.
O apresentador Alexandre Henderson fechou o evento comentando um pouco sobre o dia a dia da realização do programa Globo Ciência. “É um programa muito difícil de se fazer, mas que tem que ser fácil de entender e de assistir. É um aprendizado diário. O primeiro roteiro que eu li, pensei: ‘Vou ter que estudar muito’”, contou.
Ele lembra que a qualidade da informação é muito importante, mas que também é preciso ter uma linguagem simples. “O programa tem uma tradição de 25 anos e abarca um público de adolescentes de 16 anos a idosos e pessoas de todas as faixas de renda”, ressaltou.
Ele contou que ao entrevistar um cientista busca mostrar de forma simples a ciência, inclusive com o uso de metáforas. “Se a fala do cientista é muito complicada, tento na minha fala explicar de uma forma menos técnica. O programa visa mostrar que há ciência em tudo, no falar, no ouvir, no enxergar, no viver e que é importante para todos entender um pouco disso.”
Luís Amorim
31/03/10
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Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)