A saúde pública de todo o mundo se mobiliza para combater a disseminação do vírus influenza A (H1N1). No Brasil, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) integra a rede de vigilância liderada pelo Ministério da Saúde, repetindo o papel estratégico desempenhado em episódios anteriores, como nos surtos de síndrome respiratória aguda grave (SARS).
IOC utiliza o método de diagnóstico indicado pela OMS. Foto: Gutemberg Brito
O IOC atua como Laboratório de Referência Nacional para Influenza, credenciado pelo Ministério da Saúde, e integra há mais de 50 anos a rede da Organização Mundial da Saúde (OMS) de centros nacionais de influenza. A rede nacional de laboratórios de vigilância em influenza também é integrada pelo Instituto Adolfo Lutz (SP) e pelo Instituto Evandro Chagas (PA), que atuam como Laboratórios de Referência Regional do Ministério da Saúde.
O IOC utiliza o método de diagnóstico indicado pela OMS, chamado PCR em tempo real, que é altamente sensível. Os kits específicos para detecção da influenza A (H1N1) para uso no diagnóstico, distribuídos pelo CDC/Atlanta, já foram recebidos no IOC e estão em uso. A virologista Marilda Siqueira, chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e Sarampo do IOC, esclarece importantes aspectos da epidemia.
O episódio, a especialista destaca, demonstrou a capacidade de articulação dos países. “Há anos a OMS e os países vem se preparando para a possibilidade de uma pandemia de influenza”, afirma. Marilda conta que a expectativa era voltada para o vírus H5N1, causador da gripe aviária, que registrou mais de 400 casos desde 2003, com mais da metade resultando em mortes. “Uma das questões principais gira em torno da transmissibilidade. No caso do H5N1, que hoje é transmitido entre aves ou de ave para humano, a transmissibilidade entre humanos ainda não é confirmada”, explica.
A influenza é um vírus presente em diversas espécies animais, sendo que foram descritos no vírus influenza A 16 tipos de hemaglutininas (H) e 9 de neuraminidades (N). Quando ocorrem mudanças em segmentos genômicos destes vírus, podem surgir cepas pandêmicas. Então, sempre existe a possibilidade dos diversos vírus influenza circulantes se rearranjarem, sejam de origem humana ou animal.
Marilda ressalta que existe um aspecto social importante nesta relação já que, ao longo da história humana, a domesticação de animais aproximou o convívio mais direto entre humanos e animais e, recentemente, com o confinamento de animais criados para consumo na alimentação, entre outros fatores, as possibilidades de rearranjo de vírus da influenza são numerosas.
Imagem do vírus influenza A (H1N1) produzidas nos laboratórios do CDC/Atlanta (EUA). Foto: CDC/Atlanta
A especialista informa que até o momento o vírus influenza A (H1N1) tem se mostrado contagioso, porém sua letalidade parece baixa. Sobre os desdobramentos da situação atual, a especialista indica que é difícil prever cenários futuros. “Temos alguns quadros na nossa frente. Este vírus pode permanecer circulando com os tipos sazonais, possibilitando o intercâmbio genético entre eles. Pode surgir uma forma mais branda como resultado deste rearranjo, por exemplo. O vírus pode circular alguns meses e depois retornar de forma mais severa, como foi observado em outras situações. Não podemos esquecer que temos também o vírus influenza H5N1, aviário, que está circulando em algumas partes do mundo. Enfim, é impossível prever. Temos vários quadros pela frente, por isso não podemos relaxar na vigilância do vírus. O mais importante é continuarmos alertas e preparados para o enfrentamento, com a rede de vigilância atenta para os desdobramentos”, aponta.
A virologista rebate comentários sobre alarde exagerado na vigilância sobre a atual pandemia. “O controle de qualquer vírus respiratório é difícil. É necessário tomar as providências necessárias na hora certa. No Brasil, o Ministério da Saúde está fazendo tudo o que é necessário para conter a situação, com responsabilidade total com os compromissos firmados internacionalmente”, indica, ressaltando que a própria mobilização em torno da doença foi um dos elementos que tem contribuído para o controle.
Segundo Marilda, a situação demonstrou a capacidade de respostas dos países e das organizações, com a mobilização de governos, veículos de comunicação e da sociedade. “Em 15 dias do anúncio do novo vírus, foi possível gerar um conhecimento científico fantástico e mobilizar os governos e as pessoas para agirem em conjunto.” “Esta capacidade de resposta e de cooperação entre os países é essencial”, afirma Marilda. “Quanto mais o vírus se espalhe e se mais virulento ele se mostre, a possibilidade de tensões entre países poderá aumentar, levando a sérias consequências humanas e diplomáticas. Diferentes países têm diferentes capacidades de produção de vacinas e de estoque de antivirais. Países mais pobres sem recursos para um enfrentamento, sofrerão mais. Países mais ricos devem fazer esforços para ajudá-los. Influenza não deve dividir o mundo, mas uni-lo, baseado em ciência e solidariedade.”
Informações técnicas na página do Ministério da Saúde sobre influenza A (H1N1):
http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/area.cfm?id_area=1534
Informações para a população pelo Disque Saúde: 0800-611997
Boletins atualizados com número de casos e países atingidos na página da Organização Mundial de Saúde: http://www.who.int
*Reportagem: Raquel Aguiar e Pâmela Pinto
A saúde pública de todo o mundo se mobiliza para combater a disseminação do vírus influenza A (H1N1). No Brasil, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) integra a rede de vigilância liderada pelo Ministério da Saúde, repetindo o papel estratégico desempenhado em episódios anteriores, como nos surtos de síndrome respiratória aguda grave (SARS).
IOC utiliza o método de diagnóstico indicado pela OMS. Foto: Gutemberg Brito
O IOC atua como Laboratório de Referência Nacional para Influenza, credenciado pelo Ministério da Saúde, e integra há mais de 50 anos a rede da Organização Mundial da Saúde (OMS) de centros nacionais de influenza. A rede nacional de laboratórios de vigilância em influenza também é integrada pelo Instituto Adolfo Lutz (SP) e pelo Instituto Evandro Chagas (PA), que atuam como Laboratórios de Referência Regional do Ministério da Saúde.
O IOC utiliza o método de diagnóstico indicado pela OMS, chamado PCR em tempo real, que é altamente sensível. Os kits específicos para detecção da influenza A (H1N1) para uso no diagnóstico, distribuídos pelo CDC/Atlanta, já foram recebidos no IOC e estão em uso. A virologista Marilda Siqueira, chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e Sarampo do IOC, esclarece importantes aspectos da epidemia.
O episódio, a especialista destaca, demonstrou a capacidade de articulação dos países. “Há anos a OMS e os países vem se preparando para a possibilidade de uma pandemia de influenza”, afirma. Marilda conta que a expectativa era voltada para o vírus H5N1, causador da gripe aviária, que registrou mais de 400 casos desde 2003, com mais da metade resultando em mortes. “Uma das questões principais gira em torno da transmissibilidade. No caso do H5N1, que hoje é transmitido entre aves ou de ave para humano, a transmissibilidade entre humanos ainda não é confirmada”, explica.
A influenza é um vírus presente em diversas espécies animais, sendo que foram descritos no vírus influenza A 16 tipos de hemaglutininas (H) e 9 de neuraminidades (N). Quando ocorrem mudanças em segmentos genômicos destes vírus, podem surgir cepas pandêmicas. Então, sempre existe a possibilidade dos diversos vírus influenza circulantes se rearranjarem, sejam de origem humana ou animal.
Marilda ressalta que existe um aspecto social importante nesta relação já que, ao longo da história humana, a domesticação de animais aproximou o convívio mais direto entre humanos e animais e, recentemente, com o confinamento de animais criados para consumo na alimentação, entre outros fatores, as possibilidades de rearranjo de vírus da influenza são numerosas.
Imagem do vírus influenza A (H1N1) produzidas nos laboratórios do CDC/Atlanta (EUA). Foto: CDC/Atlanta
A especialista informa que até o momento o vírus influenza A (H1N1) tem se mostrado contagioso, porém sua letalidade parece baixa. Sobre os desdobramentos da situação atual, a especialista indica que é difícil prever cenários futuros. “Temos alguns quadros na nossa frente. Este vírus pode permanecer circulando com os tipos sazonais, possibilitando o intercâmbio genético entre eles. Pode surgir uma forma mais branda como resultado deste rearranjo, por exemplo. O vírus pode circular alguns meses e depois retornar de forma mais severa, como foi observado em outras situações. Não podemos esquecer que temos também o vírus influenza H5N1, aviário, que está circulando em algumas partes do mundo. Enfim, é impossível prever. Temos vários quadros pela frente, por isso não podemos relaxar na vigilância do vírus. O mais importante é continuarmos alertas e preparados para o enfrentamento, com a rede de vigilância atenta para os desdobramentos”, aponta.
A virologista rebate comentários sobre alarde exagerado na vigilância sobre a atual pandemia. “O controle de qualquer vírus respiratório é difícil. É necessário tomar as providências necessárias na hora certa. No Brasil, o Ministério da Saúde está fazendo tudo o que é necessário para conter a situação, com responsabilidade total com os compromissos firmados internacionalmente”, indica, ressaltando que a própria mobilização em torno da doença foi um dos elementos que tem contribuído para o controle.
Segundo Marilda, a situação demonstrou a capacidade de respostas dos países e das organizações, com a mobilização de governos, veículos de comunicação e da sociedade. “Em 15 dias do anúncio do novo vírus, foi possível gerar um conhecimento científico fantástico e mobilizar os governos e as pessoas para agirem em conjunto.” “Esta capacidade de resposta e de cooperação entre os países é essencial”, afirma Marilda. “Quanto mais o vírus se espalhe e se mais virulento ele se mostre, a possibilidade de tensões entre países poderá aumentar, levando a sérias consequências humanas e diplomáticas. Diferentes países têm diferentes capacidades de produção de vacinas e de estoque de antivirais. Países mais pobres sem recursos para um enfrentamento, sofrerão mais. Países mais ricos devem fazer esforços para ajudá-los. Influenza não deve dividir o mundo, mas uni-lo, baseado em ciência e solidariedade.”
Informações técnicas na página do Ministério da Saúde sobre influenza A (H1N1):
http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/area.cfm?id_area=1534
Informações para a população pelo Disque Saúde: 0800-611997
Boletins atualizados com número de casos e países atingidos na página da Organização Mundial de Saúde: http://www.who.int
*Reportagem: Raquel Aguiar e Pâmela Pinto
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)