O Programa de Pós-graduação em Biologia Parasitária do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) ultrapassou a marca de mil parasitologistas formados, entre mestres e doutores. O programa faz parte da vocação histórica do IOC no estudo da parasitologia, cuja proposta é associar a tradição de excelência da instituição na área às novas abordagens científicas e tecnológicas.
O marco da milésima defesa coube a Joseneide Viana de Almeida, professor da Universidade Estadual de Roraima (UERR). Seu estudo teve como foco a leishmaniose tegumentar – doença que provoca feridas na pele e, em alguns casos, nas mucosas da boca e do nariz.
Realizada através do programa de Doutorado Interinstitucional (Dinter), estabelecido entre a Pós-Graduação do IOC e a Universidade Federal de Roraima (UFRR), a pesquisa teve orientação de Reginaldo Peçanha Brazil, pesquisador do Laboratório de Doenças Parasitárias do IOC.
A tese de Almeida apresentou um mapeamento inédito das espécies de parasitos causadores da infecção em Roraima, a partir de um amplo trabalho de campo e de análises genéticas.
“Chegar à defesa de número mil com um aluno do Dinter é uma marca significativa do que o Programa de Pós-graduação em Biologia Parasitária quer ser: um curso nacional de abrangência internacional”, afirmou o coordenador do Programa, André Roque.
Cada uma das pesquisas desenvolvidas no programa é responsável por apresentar informações relevantes para a saúde pública. Com a milésima tese não foi diferente. O estudo revelou a grande diversidade de espécies de Leishmania circulantes em Roraima e encontrou duas variedades do parasito que nunca tinham sido detectadas no Brasil.
A pesquisa contou com um amplo trabalho de campo. Além da capital, Boa Vista, foram coletadas amostras em municípios de diferentes regiões do estado, entre 2016 e 2018. Ao todo, 262 casos suspeitos foram analisados. A infecção foi confirmada em 129 pacientes. Entre estes casos, 76 foram selecionados para o sequenciamento genético dos parasitos.
A análise molecular revelou a circulação de nove espécies de Leishmania. Com transmissão conhecida na região amazônica, as espécies Leishmania (Vianna) braziliensis e Leishmania (Leishmania) amazonensis foram as mais frequentes.
Porém, a identificação do parasito Leishmania (Vianna) panamensis em 13% das amostras surpreendeu os cientistas. Principal causadora da doença no Panamá e na Colômbia, a espécie nunca tinha sido detectada no Brasil.
Outra espécie inédita no país, o parasito Leishmania (Viannia) mexicana foi identificado em um caso, no município de Alto Alegre, no Norte do estado. A espécie é comum principalmente no México.
“Rastreamos os casos e os pacientes não tinham viajado, com exceção de alguns indígenas, que são nômades e circulam entre o Brasil e a Venezuela. A maioria dos infectados não tinha saído de Roraima no último ano, o que indica transmissão local”, afirmou Joseneide.
O autor do trabalho destacou ainda a metodologia aplicada, que pode facilitar as análises moleculares em áreas isoladas.
“Testamos uma nova técnica de coleta e envio de amostras, utilizando papel filtro, que permitiu transportar o material biológico mantendo a qualidade para a extração de DNA. É uma metodologia que pode ser usada em investigações sobre outras doenças”, ressaltou.
Considerando os resultados, novos estudos estão em andamento com o objetivo de mapear o ciclo de transmissão dos parasitos L. (V.) panamensis e L. (V.) mexicana em Roraima. Nas áreas onde os casos foram registrados, os pesquisadores já realizaram a coleta de vetores para investigar se os parasitos podem ser detectados nos insetos.
Joseneide destaca que a conclusão do doutorado, propiciada pelo Dinter, trouxe novas oportunidades para desenvolver pesquisas.
“Nossa universidade tem apenas 16 anos de existência, e a formação de doutores é fundamental para avançar na parte da pesquisa. Atualmente, tenho três projetos em curso, com participação de alunos de graduação, que já são inseridos na atividade científica desde o começo da formação”, salienta o professor.
Pós-graduação mais antiga em atividade no IOC, a Biologia Parasitária iniciou a formação de mestres em 1976 e de doutores em 1992. Desde 2013, o curso é avaliado com conceito 7 pela Coordenação de Aperfeiçoamento e de Pessoal de Nível Superior (Capes). A nota máxima, que indica excelência em nível internacional, foi renovada, pela terceira vez consecutiva, em 2022, na avaliação que considerou o período de 2017 a 2020.
“Na pandemia, apesar das dificuldades, conseguimos manter a formação de alta qualidade sem interromper processos seletivos e defesas”, pontuou André, lembrando que o curso implantou o processo de seleção de alunos de forma remota em 2015, para facilitar o ingresso de estudantes de diferentes estados e países.
Além do Dinter em Roraima, a pós-graduação já atuou, e ainda atua, em diversas iniciativas para promover a formação de excelência além dos muros de Manguinhos. Nos últimos anos, a Biologia Parasitária formou doutores no Acre e no Amazonas, assim como mestres em Moçambique, na África. As turmas foram estabelecidas por meio de acordos firmados pelo IOC e pela Fiocruz com instituições científicas locais.
Atualmente, está em curso a formação de doutores em Rondônia, por meio de acordo entre o IOC e o escritório técnico da Fiocruz no estado. Uma turma de doutorado interinstitucional em Biologia Parasitária também foi iniciada no Rio Grande do Norte. Criado através da cooperação entre a Pós-graduação do IOC e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o curso é o primeiro a oferecer formação de doutorado na área no estado.
“Quando iniciamos o Dinter em Roraima, havia pouco mais de 30 doutores na UFRR. O projeto aumentou esse número em 25%. A importância dessa iniciativa foi destacada no último relatório de avaliação da Capes”, diz André.
“Depois de formados, os doutores têm maior facilidade para captar recursos para suas pesquisas e podem orientar alunos. Dessa forma, conseguem nuclear grupos de pesquisa e contribuir para implantar novos cursos de pós-graduação, levando adiante o DNA da Biologia Parasitária”, completa o pesquisador.
O programa vem aprofundando o processo de internacionalização, com a oferta de cursos internacionais e o intercâmbio de discentes e docentes. No final de 2021, foi realizada a primeira defesa na modalidade de cotutela internacional. A estudante Camila Cardoso Santos desenvolveu sua tese de doutorado no Programa de Biologia Parasitária do IOC e no curso de Ciências Biomédicas da Universidade da Antuérpia, na Bélgica, garantindo a dupla titulação.
A modalidade também tem atraído alunos estrangeiros para o Programa. Um aluno belga e uma aluna francesa já cursaram disciplinas e desenvolveram parte de seus projetos no IOC, de forma a obter a titulação simultânea na Biologia Parasitária e em programas de pós-graduação dos seus países.
Segundo André, mesmo com a volta ao presencial, a seleção para o doutorado foi mantida em formato online, com edital publicado em três idiomas.
“Recebemos frequentemente estudantes latino-americanos e asiáticos. No ano passado, também tivemos o ingresso de um aluno dos Estados Unidos e outro da Espanha. A presença de estudantes de países considerados como centros de excelência mostra o reconhecimento internacional do curso”, aponta o coordenador.
Da hanseníase à Covid-19 e da dengue à leishmaniose, os alunos formados na Biologia Parasitária podem contribuir para o enfrentamento de agravos com alto impacto na saúde pública, através da pesquisa, docência ou do exercício profissional nas áreas da ciência, tecnologia e saúde.
“Além de uma formação qualificada, esperamos que os nossos alunos enxerguem sua responsabilidade social na aplicação dos conhecimentos, considerando o quanto nosso país investiu neles”, ressalta André.
O Programa de Pós-graduação em Biologia Parasitária do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) ultrapassou a marca de mil parasitologistas formados, entre mestres e doutores. O programa faz parte da vocação histórica do IOC no estudo da parasitologia, cuja proposta é associar a tradição de excelência da instituição na área às novas abordagens científicas e tecnológicas.
O marco da milésima defesa coube a Joseneide Viana de Almeida, professor da Universidade Estadual de Roraima (UERR). Seu estudo teve como foco a leishmaniose tegumentar – doença que provoca feridas na pele e, em alguns casos, nas mucosas da boca e do nariz.
Realizada através do programa de Doutorado Interinstitucional (Dinter), estabelecido entre a Pós-Graduação do IOC e a Universidade Federal de Roraima (UFRR), a pesquisa teve orientação de Reginaldo Peçanha Brazil, pesquisador do Laboratório de Doenças Parasitárias do IOC.
A tese de Almeida apresentou um mapeamento inédito das espécies de parasitos causadores da infecção em Roraima, a partir de um amplo trabalho de campo e de análises genéticas.
“Chegar à defesa de número mil com um aluno do Dinter é uma marca significativa do que o Programa de Pós-graduação em Biologia Parasitária quer ser: um curso nacional de abrangência internacional”, afirmou o coordenador do Programa, André Roque.
Cada uma das pesquisas desenvolvidas no programa é responsável por apresentar informações relevantes para a saúde pública. Com a milésima tese não foi diferente. O estudo revelou a grande diversidade de espécies de Leishmania circulantes em Roraima e encontrou duas variedades do parasito que nunca tinham sido detectadas no Brasil.
A pesquisa contou com um amplo trabalho de campo. Além da capital, Boa Vista, foram coletadas amostras em municípios de diferentes regiões do estado, entre 2016 e 2018. Ao todo, 262 casos suspeitos foram analisados. A infecção foi confirmada em 129 pacientes. Entre estes casos, 76 foram selecionados para o sequenciamento genético dos parasitos.
A análise molecular revelou a circulação de nove espécies de Leishmania. Com transmissão conhecida na região amazônica, as espécies Leishmania (Vianna) braziliensis e Leishmania (Leishmania) amazonensis foram as mais frequentes.
Porém, a identificação do parasito Leishmania (Vianna) panamensis em 13% das amostras surpreendeu os cientistas. Principal causadora da doença no Panamá e na Colômbia, a espécie nunca tinha sido detectada no Brasil.
Outra espécie inédita no país, o parasito Leishmania (Viannia) mexicana foi identificado em um caso, no município de Alto Alegre, no Norte do estado. A espécie é comum principalmente no México.
“Rastreamos os casos e os pacientes não tinham viajado, com exceção de alguns indígenas, que são nômades e circulam entre o Brasil e a Venezuela. A maioria dos infectados não tinha saído de Roraima no último ano, o que indica transmissão local”, afirmou Joseneide.
O autor do trabalho destacou ainda a metodologia aplicada, que pode facilitar as análises moleculares em áreas isoladas.
“Testamos uma nova técnica de coleta e envio de amostras, utilizando papel filtro, que permitiu transportar o material biológico mantendo a qualidade para a extração de DNA. É uma metodologia que pode ser usada em investigações sobre outras doenças”, ressaltou.
Considerando os resultados, novos estudos estão em andamento com o objetivo de mapear o ciclo de transmissão dos parasitos L. (V.) panamensis e L. (V.) mexicana em Roraima. Nas áreas onde os casos foram registrados, os pesquisadores já realizaram a coleta de vetores para investigar se os parasitos podem ser detectados nos insetos.
Joseneide destaca que a conclusão do doutorado, propiciada pelo Dinter, trouxe novas oportunidades para desenvolver pesquisas.
“Nossa universidade tem apenas 16 anos de existência, e a formação de doutores é fundamental para avançar na parte da pesquisa. Atualmente, tenho três projetos em curso, com participação de alunos de graduação, que já são inseridos na atividade científica desde o começo da formação”, salienta o professor.
Pós-graduação mais antiga em atividade no IOC, a Biologia Parasitária iniciou a formação de mestres em 1976 e de doutores em 1992. Desde 2013, o curso é avaliado com conceito 7 pela Coordenação de Aperfeiçoamento e de Pessoal de Nível Superior (Capes). A nota máxima, que indica excelência em nível internacional, foi renovada, pela terceira vez consecutiva, em 2022, na avaliação que considerou o período de 2017 a 2020.
“Na pandemia, apesar das dificuldades, conseguimos manter a formação de alta qualidade sem interromper processos seletivos e defesas”, pontuou André, lembrando que o curso implantou o processo de seleção de alunos de forma remota em 2015, para facilitar o ingresso de estudantes de diferentes estados e países.
Além do Dinter em Roraima, a pós-graduação já atuou, e ainda atua, em diversas iniciativas para promover a formação de excelência além dos muros de Manguinhos. Nos últimos anos, a Biologia Parasitária formou doutores no Acre e no Amazonas, assim como mestres em Moçambique, na África. As turmas foram estabelecidas por meio de acordos firmados pelo IOC e pela Fiocruz com instituições científicas locais.
Atualmente, está em curso a formação de doutores em Rondônia, por meio de acordo entre o IOC e o escritório técnico da Fiocruz no estado. Uma turma de doutorado interinstitucional em Biologia Parasitária também foi iniciada no Rio Grande do Norte. Criado através da cooperação entre a Pós-graduação do IOC e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o curso é o primeiro a oferecer formação de doutorado na área no estado.
“Quando iniciamos o Dinter em Roraima, havia pouco mais de 30 doutores na UFRR. O projeto aumentou esse número em 25%. A importância dessa iniciativa foi destacada no último relatório de avaliação da Capes”, diz André.
“Depois de formados, os doutores têm maior facilidade para captar recursos para suas pesquisas e podem orientar alunos. Dessa forma, conseguem nuclear grupos de pesquisa e contribuir para implantar novos cursos de pós-graduação, levando adiante o DNA da Biologia Parasitária”, completa o pesquisador.
O programa vem aprofundando o processo de internacionalização, com a oferta de cursos internacionais e o intercâmbio de discentes e docentes. No final de 2021, foi realizada a primeira defesa na modalidade de cotutela internacional. A estudante Camila Cardoso Santos desenvolveu sua tese de doutorado no Programa de Biologia Parasitária do IOC e no curso de Ciências Biomédicas da Universidade da Antuérpia, na Bélgica, garantindo a dupla titulação.
A modalidade também tem atraído alunos estrangeiros para o Programa. Um aluno belga e uma aluna francesa já cursaram disciplinas e desenvolveram parte de seus projetos no IOC, de forma a obter a titulação simultânea na Biologia Parasitária e em programas de pós-graduação dos seus países.
Segundo André, mesmo com a volta ao presencial, a seleção para o doutorado foi mantida em formato online, com edital publicado em três idiomas.
“Recebemos frequentemente estudantes latino-americanos e asiáticos. No ano passado, também tivemos o ingresso de um aluno dos Estados Unidos e outro da Espanha. A presença de estudantes de países considerados como centros de excelência mostra o reconhecimento internacional do curso”, aponta o coordenador.
Da hanseníase à Covid-19 e da dengue à leishmaniose, os alunos formados na Biologia Parasitária podem contribuir para o enfrentamento de agravos com alto impacto na saúde pública, através da pesquisa, docência ou do exercício profissional nas áreas da ciência, tecnologia e saúde.
“Além de uma formação qualificada, esperamos que os nossos alunos enxerguem sua responsabilidade social na aplicação dos conhecimentos, considerando o quanto nosso país investiu neles”, ressalta André.
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)